segunda-feira, 16 de maio de 2022

Homenagem a José Saramago - encontro com o investigador Simão Valente : Projeto Cientificamente Provável




 Hoje, dia 16 de maio, foi realizado o primeiro encontro com investigadores, atividade inserida no âmbito do Projeto Cientificamente Provável, numa parceria com o Centro de Estudo Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mediado pela arquiteta Joana Botelho que convidou Simão Valente a realizar este encontro, numa sessão presencial dirigida aos alunos do 12.º ano do ensino regular.

Esta sessão complementa e abre linhas de interpretação para a obra de José Saramago, em particular para  O ano da morte de Ricardo Reis, centrando-se nos processos de reescrita e interpretação dos factos históricos, dos símbolos criados para construir uma determinada realidade ou visão histórica, que é em si , uma mundividência ficcional. Neste romance, é isso que Saramago explora, construindo uma personagem que é Ricardo Reis  e outra que é Fernando Pessoa. Estas personagens acompanham todo um processo de revisitação de factos históricos, reinterpretados e criticados, criando-se assim uma perspetiva diferente.

Simão Valente chama a atenção para a seleção de informação e sua releitura ao serviço de ideias e narrativas promotoras de mundividências  alternativas. Contam-se histórias para fazer a História, para promover ideais com objetivos políticos, económicos e sociais. Este investigador traz-nos exemplos concretos de como as estátuas dos grandes autores da literatura portuguesa são utilizados para engrandecer uma ideia de cultura; como alguns monumentos em Portugal foram reconstruídos para enaltecer os gloriosos tempos antigos, contruindo-se em torno destas figuras, destes monumentos narrativas de dimensão heroica, presentificadas no contexto de uma cidade, neste caso Lisboa, a capital. 

As releituras são sempre interpretações, narrações promotoras de uma determinada visão que pretendem veicular um conjunto de valores, criticar outros, valorizar e promover outros de acordo com os variados interesses de diversa ordem, mas acima de tudo perpetuar a memória. A memória histórica é uma continuada ficção. São disso exemplos manifestações de arte popular como as sardinhas pintadas ou o galo de Barcelos, ambos com atual estatuto de ícones da cultura popular, lembranças para turistas. Mas, espelham também uma relação de identificação com muitas histórias curiosas por detrás deste objetos simbólicos, atualmente produzidos em massa. É também esta consciência da necessidade de se construir a ficção de uma memória histórica e unificadora que traga sentido ao presente o que explica a opção pela reconstrução de um património histórico -monumentos, estátuas - na década de 30 e 40 do século XX como o castelo de São Jorge em Lisboa. 

Apercebemo-nos assim que as narrativas têm um carater ficcional, que transcendem o imaginário. Elas constroem um imaginário coletivo e, desta forma, os processos de se fazer história e História fundem-se. O ano de 1936 é o ano da construção de uma nova identidade nacional.

Esta sessão foi uma homenagem a José Saramago e à sua construção ficcional - O ano da Morte de Ricardo Reis.

Ficam também algumas referências literárias como os poemas de Fernando Pessoa em que Saramago se inspirou para criar o personagem. E acima de tudo fica a consciência da ficcionalização da realidade, ou como Goethe dizia. "Não há factos, há a sua interpretação." E isto é tão verdade para a HISTÓRIA, como para as histórias individuais, como para os romances. A linha entre a verdade e a ficção é ténue.

Obrigado Dr. Simão Valente por este momento. 

Obrigado  Joana Botelho.

Esta atividade promove os ODS - 4 Educação de qualidade e 17 - Parcerias




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