quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O Clube da Rádio Escola - Rádio Escola Azul: Entrevista com Dra. Tânia Camilo, responsável pela Biblioteca Municipal do Cadaval

 

No último dia de aulas deste período os alunos da Rádio Escola Azul entrevistaram a Dra. Tânia Camilo, responsável pela Biblioteca Municipal do Cadaval, para dar a conhecer aos nossos ouvintes um importante acontecimento celebrado este mês na Biblioteca Municipal do Cadaval - as comemorações do 650 aniversário da Carta de  Constituição da Vila do Cadaval, a qual instituiu o nosso concelho. Os alunos aproveitaram para visitar o Livro1 de Chancelaria de D. Fernando I.

                                        Uma viagem "jornalística" à sala do livro!

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Entrevista com Dra. Tânia Camilo



Rádio escola Azul: Olá, bom dia! Obrigado por ter aceitado nosso convite, Dra. Tânia. Vamos começar com as perguntas. Porque é que o dia 1 de dezembro é importante ?


Dra. Tânia Camilo:  O dia 1 de dezembro é muito importante para o nosso concelho porque foi o dia em que ele nasceu.

Foi o dia em que o D. Fernando, em 1371, constituiu o Cadaval como vila  e quando falamos em vila falamos no território,  no concelho que era mais pequenino, mas era mais ou menos aquele que nós já conhecemos hoje.


Rádio escola Azul: Qual é a origem do concelho do Cadaval?


Dra. Tânia Camilo: O concelho do Cadaval tem origem no concelho de Óbidos. O concelho de Óbidos em 1371 era um concelho muito grande e o rei D. Fernando decidiu então dividi-lo e criou a 10 de julho de 1371, o concelho do Peral. E nós temos sempre de falar do concelho de Peral porque foi ele que depois deu origem ao concelho do Cadaval. Portanto, a 10 de julho de 1371, D. Fernando dividiu o concelho de Óbidos e criou o concelho do Peral que tinha no seu território o concelho do Cadaval  e do Cercal. No mesmo ano,  a 1 de dezembro constituiu o concelho do Cadaval.  Fez do Cadaval,  vila e anexo o Peral e do Cercal ao concelho Portanto, o Peral deixou de ser concelho e passou a estar incluído no território do concelho do Cadaval e esta é a origem do nosso concelho.

 

Rádio escola Azul: Qual a importância do livro?


Dra. Tânia Camilo: Este livro, que é o livro 1 de Chancelaria de D. Fernando, é muito importante porque para além de ter esta Carta de constituição da Vila do Cadaval que é no fundo da certidão de nascimento do nosso concelho, tem muita história de Portugal. Tem muitas das leis que ele promulgou, tem muitas outras cartas de constituição de vilas e cidades, tem uma série de outros documentos importantes e que se tornam fonte de trabalho e investigação histórica. Por isso, é que ele é tão importante, pois é claro, obviamente que é um livro com mais de 650 anos. Só isso, por si, já  é de uma  importância extrema porque é uma antiguidade muito valiosa.


Rádio escola Azul: Ok então, de onde é que vem o livro?

Dra. Tânia Camilo: O livro vem  do Arquivo Nacional Torre do Tombo. Vem  de Lisboa. E o Arquivo Nacional   Torre do Tombo é o local onde está armazenada,  arrumada, acondicionada e preservada toda a documentação histórica do nosso país. Tudo o que é documento histórico e não só. Presumo que a constituição do nosso país, Portugal, esteja lá guardada e preservada. Portanto, é a entidade máxima de preservação de documentação histórica. E não só histórica, há outro  tipo de documento que também estão lá preservados e a salvaguarda do nosso património histórico.


Rádio escola Azul: Qual é o valor  histórico deste livro?


Dra. Tânia Camilo: O valor histórico deste livro é incalculável porque tem 650 anos, depois as suas folhas não são de papel, são em pergaminho de linho. Qualquer objeto com estas características e com o conteúdo que ele tem não tem valor. Nós não conseguimos atribuir no valor. Portanto é de um valor monetário absolutamente incalculável.

  Ele para estar aqui no nosso concelho nós tivemos de fazer um seguro e seguro tinha um um valor que eu não vou dizer mas é bastante alto  mas na realidade não tem valor. Mas, na realidade, não tem valor não tem valor pela sua importância para sua magnitude. 



Rádio escola Azul: Ok. agora vou fazer uma pergunta. Não sobre o livro mas sobre si. Você gosta de trabalhar na biblioteca?


Dra. Tânia Camilo: Eu não gosto. Eu adoro. Sabes porquê? Porque posso trazer livros destes para as pessoas desta terra conhecerem a sua história. Por exemplo, porque isto não é propriamente o papel da biblioteca. Este trabalho é um trabalho conjunto entre a Biblioteca e  o Museu, portanto são as duas entidades que trouxeram este livro. Mas depois para além destas possibilidades que nós podemos aqui arranjar para as pessoas também somos uma porta aberta para informação. Às vezes, há pessoas que não têm possibilidade ou não sabem até pesquisar e nós conseguimos fazer isso. Há pessoas que gostam imenso de ler e depois podem não ter capacidade económica para comprar livros que são caros e então, nós temos aqui os livros, temos aqui CDS, DVDS, fazemos as atividades ou seja nós pertencemos à comunidade, trabalhamos para a comunidade, só existimos porque a comunidade existe. E isso é gratificante porque depois  as pessoas vêm, utilizam os nossos serviços e gostam e dizem-nos e dão-nos os parabéns e isso é muito, muito gratificante. É um trabalho em que nós conseguimos cumprir as nossas metas e objetivos e as pessoas gostam e utilizam. Gostaríamos que utilizassem mais, portanto, que comecem a vir à biblioteca mais, mas essencialmente é isto: Nós conseguimos ter o retorno do nosso trabalho. Isso é muito gratificante. 



Rádio escola Azul: Agora outra pergunta: O vidro é a prova de bala?

Dra. Tânia Camilo: Não sei. Eu penso que ninguém vem para aqui com uma arma disparar contra a vitrine, não é?

Obviamente que a sala é uma sala segura. Julgo que o vidro não seja à prova de bala. A sala fica trancada. Temos alarme, temos câmaras de vigilância, temos tudo para assegurar as boas condições do livro e a segurança dele. Mas também não vamos acreditar que alguém venha aqui atirar tiros contra o livro. Pensamos que não. Para isso, assaltavam um banco!


Rádio escola Azul: Este livro também é muito histórico e valioso. Uma pessoa que goste de coisas assim mais históricas podia roubar? Não estou a dizer que vai…



Dra. Tânia Camilo: Não…Uma pessoa que gosta de coisas históricas não é malfeitor, não é um  ladrão. O que pode fazer é tirar uma fotografia ao livro, mas sem flash, porque o livro não pode ter luz. Pode tirar uma fotografia ao livro e assim fica com uma recordação.  Além do que aquele livro existe online. Está na internet  no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Portanto,  nós podemos retirar aquela informação toda e ficar com ela.  Agora, uma coisa é nós fazermos o download da informação  e ficarmos com ela numa pastinha no computador outra coisa é virmos visitar o livro. Tem outro impacto. E vocês foram lá e viram aquele livro e pensaram assim:

“Bem,  este livro já esteve  na mão de reis, já passou pelo terremoto de 1755, já passou francesas, já passou  pela fuga dos reis para o Brasil “ Este livro tem uma história enorme São 650 anos portanto só o facto de alguém vir aqui e olhar para o livro, já fica registado na na memória é muito bom. De resto, se quiser o conteúdo do livro, está na internet.


Rádio escola Azul: Porque é que o livro tem aquele cheiro?

Dra. Tânia Camilo: Essa pergunta é boa para a tua professora!. Aquele livro tem aquele cheiro porque é utilizado pele de animal para a sua conceção. Portanto, havia  pergaminho em pele, e esses suponho que tivessem um cheiro mais intenso e tivesse , talvez, mais manchas, porque a pele absorve com facilidade. Mas este livro é um pergaminho de linho. Presumo que o cheiro não venha daí, mas da capa.


Professora Helena Prieto: A capa é feita de couro, de pele dos animais. Depois de 650 anos, ele tem de estar muito bem preservado, senão o que vai acontecer? Vai apodrecer. É por isso que ele não pode estar em contacto com as mãozinhas.


Rádio escola Azul: Pode-nos dizer porque é que o livro se pode estragar com o flash?

Dra. Tânia Camilo: A luz…Imagina que tens uma camisola preta e a pões ao sol? O que acontece?


Rádio escola Azul: Ela fica quente.

Dra. Tânia Camilo: Ela fica quente, mas se a deixares sempre a secar ao sol, ela começa a perder a cor. Além de que o sol é quente. O livro tem de estar com condições atmosféricas  e de luz ideias. Com pouca luz, porque a luz vai desbotar a tinta. Temos de pensar que aquela tinta tem 650 anos. Nem sequer é a tinta das canetas que usamos hoje. Era uma tinta especial. Todo o texto foi escrito com uma pena, com aparo. O sol iria fazer com que as letras desaparecessem. O calor do sol também iria prejudicar o livro. Ia ressecar. 

 O livro, r só para vocês terem uma ideia, tem que estar dentro de uma sala com a temperatura entre os 18 e os 20 graus e estar com humidade relativa entre 50 a 55%. Por exemplo, aqui neste gabinete, estaria demasiado quente e com demasiada humidade.

Aquela sala desde o dia em que o livro entrou até hoje e até o dia livre se vai embora, que é segunda-feira,  está o ar  condicionado ligado E nós andamos sempre a ligar e desligar máquinas para continuar a manter estas condições atmosféricas ideais porque o frio vai ressequir o livro. O calor vai ressequir o livro, a humidade vai criar bolor. Portanto, o livro tem de estar nas condições ideais.

 

Rádio escola Azul: Pode-nos dizer como é que o livro veio para aqui?

Dra. Tânia Camilo: O livro vem para aqui através de uma empresa especializada em transporte de peças de arte  e valiosas . Porquê? Porque ele tem de estar muito bem acondicionado dentro de uma caixa especial. É uma caixa de cartão mas é especial É acid free o que significa que os bichinhos não vão lá entrar. Não vão lá comer. Há bichinhos que comem papel. Ele tem de vir bem acondicionado para não vir aos trambolhões.

E ainda veio uma senhora, uma courrier,  uma pessoa que transporta peças de arte ou de valor. Veio uma courrier da Torre do Tombo abrir a caixa depositar o livro naquela almofada que nós tivemos de fazer para ele deixar bem acondicionado.  Se repararem e
le não está assim está encarado,  não está totalmente aberto. Está assim em “ V” para não forçar a lombada lombada senão  estraga-se. E só com estes cuidados todos é que é possível um livro sobre viver 650 anos.


Rádio escola Azul: Ok, muito obrigado por nos receber e por responder às nossas perguntas. Eu acho que são todas as perguntas por agora. E despedimo-nos.

Dra. Tânia Camilo: Obrigada eu, por terem cá vindo e por se terem interessado por este livro. Fico muito contente. Muito obrigado.




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