sexta-feira, 3 de maio de 2019

Projecto Cientificamente Provável - José Saramago

A terceira palestra deste projecto é da autoria de duas docentes especialista na obra de José Saramago - Lourdes Martins e Célia Carvalho - que, para os alunos do 12.º ano, apresentaram, na tarde de dia 3 de maio, uma perspectiva geral sobre a obra deste autor português ao qual foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura em 1998, com enfoque especial na obra O ano da morte de Ricardo Reis que os alunos têm de estudar este ano letivo. Também nos ofereceram o seu livro Reler José Saramago Paradigmas Ficcionais que escreveram em conjunto com Paula Pires Santos e Helena Silva.
Lourdes Martins, numa primeira parte da apresentação, centra-se na evolução da obra de Saramago que assenta num diálogo permanente entre a história e a ficção ( a matriz), dando através dela voz aos personagens históricos que na História não a têm como acontece, por exemplo, em Levantados do Chão ou o Memorial do Convento. A palestrante explica a evolução da obra que se pode encaixar em ciclos diferentes segundo a temática e a perspectiva do escritor que se vai alterando fruto das modificações do contexto cultural e da evolução da sociedade a que não está alheio.
Célia Carvalho, numa segunda parte desta palestra, centra-se na apresentação das características da obra O ano da morte de Ricardo Reis, chamando uma especial atenção para as questões do intertexto, um dos alicerces deste romance. E como podemos identificar o intertexto?  Identificando as fontes  que o autor utilizou para caracterizar espaços e personagens, incluídas no texto. A linguagem destes textos são citações explicitas ou implícitas dentro da teia textual. Por sua vez, esta intertextualidade traduz-se numa familiaridade do leitor com o texto, uma vez que existem imensas referências a obras e figuras literárias importantes da nossa literatura como Camões, Fernando Pessoa, Cesário Verde por exemplo. Há um espaço " de viagem " pela cidade de Lisboa que também é uma viagem pela literatura portuguesa.
A obra  O ano da morte de Ricardo Reis vai buscar elementos familiares aos leitores com referências à história e à literatura. Camões, Fernando Pessoa. A narrativa é fechada: está terminada antes de se ter começado a ler. Todas as personagens estão mortas. 
Porquê Ricardo Reis? Para dar possibilidade a que este se envolva com o que o rodeia. Em contraponto com a indiferença que o caracteriza enquanto personagem criada por Fernando Pessoa.
 Porquê 1984? Quando os problemas que havia em 1936 já não existem? Para desafiar o leitor.  Ricardo Reis é duplamente ficcional. A personagem é recuperada a explorada criativamente por Saramago. O intertexto é estrutural nesta obra. A caracterização do personagem é copiada de caracterização já feita por Fernando Pessoa. São recuperados poemas já escritos de Ricardo Reis. A personagem de Fernando Pessoa é caracterizada com base em várias fontes como jornais, biografia, elogio fúnebre. Há muitas obras dentro da obra. Identicaficam-se porque a linguagem muda. Há personagens que são memórias de Ricardo Reis como Lídi. A baixa de Lisboa é o espaço de referências literárias a Virgílio, Camões, Cervantes etc. É um puzzle e nós movimentamo-nos dentro dele. E, movimentam-nos  melhor se conhecermos as referências literárias que vão desde a lírica trovadoresca ao próprio Fernando Pessoa. Também é uma viagem pela história em retrospectiva até a 1936.  Este texto mostra a importância de agir e de intervir. Deixa-nos a mensagem de que é importante alterar o destino. O que é preciso é impedir que o destino seja destino.
Às palestrantes e a Joana Botelho o nosso muito obrigado.






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