quinta-feira, 25 de junho de 2020

Programa Cientificamente Provável | Desafio 2 - Nós e as palavras

No âmbito do desafio 2 do Projeto Cientificamente Provável, Nós e as imagens, foram realizadas três sessões em videoconferência com Simão Valente, professor universitário e investigador do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para os alunos do 9.º ano  orientados pelas docentes Aida Santos e Sónia Abreu respetivamente. Estiveram também presentes a mentora deste projeto, Joana Botelho e a PB Helena Prieto.


Decorrente do primeiro vídeo da série intitulada Ways of seeing de John Berger transmitido pela BBC 2 em 1972, disponível no YouTube, surge a apresentação de Simão Valente, que nos vem explicar o que ele chama a “Pré-História da Imagem”, a evolução da imagem e de algumas conceções de representação, os códigos que subjazem a uma gramática da imagem e que vão evoluindo, passando das imagens sagradas nas igrejas com códigos convencionais muito rígidos de representação dos seres divinos a uma progressiva humanização do divino e posteriormente a uma centralidade do humano. A este desenvolvimento na representação aliam-se os meios mecânicos e a divulgação em massa de fotografias e de reproduções de arte através de livros, postais, posters, etc. que torna fácil o acesso à imagem, mas que subverte e descontextualiza a mensagem das imagens e a relação que com elas se cria. Especialmente no século XX e XXI, com a evolução dos mass media como o cinema, a televisão, os novos media, a imagem têm um papel central na comunicação e “ invade” o espaço cultural, alterando a relação entre quem vê e o que é mostrado, uma vez que muito do que é mostrado nos aparece em contextos diferentes do inicial. Por exemplo, é muito diferente ver uma pintura no seu “ lugar” contextual – na igreja, no museu ou galeria de arte – ou num postal, livro ou até filme. Isto porque o contexto físico também faz parte da mensagem, o que faz com que o valor da imagem se altere e adquira diferentes significados. Da obra de arte, única e original, passou-se para um sistema de cópias infinitas totais e parciais – recortes -. A banalização leva à familiaridade. E, esta também muda a interpretação e a relação com a imagem. Observar um quadro num museu, como a Mona Lisa (Museu do Louvre), é uma experiência muito diferente de o ver num postal ou impresso num livro de arte. Observar toda uma pintura ao vivo é diferente de ver partes.

O enterro de Cristo de Fra Angelico

A história da imagem é também a história da forma como nos relacionamos com ela e como interpretamos a sua simbologia. Por exemplo, em O enterro de Cristo (1450) uma pintura de Fra Angelico (1395-1455) que está na Alte Pinakothek de Munique, Alemanha, identificamos seres divinos, as figuras sagradas, como Cristo pelas auréolas douradas em volta da cabeça das personagens. Estas são sempre representadas desta forma, evocando um plano para além do humano. Estas pinturas encontram-se nas igrejas e são utilizadas para contar as histórias bíblicas. Interagem assim com os plano do religioso e sagrado, num espaço também ele sagrado.

O sepultamento de Cristo de Ticiano

O enterro do Conde de Orgaz de El Greco

Com o Renascimento há uma humanização das personagens retratadas. Nesta pintura de Ticiano, (1490-1576), O sepultamento de Cristo (1559) que está no Museu do Prado, Madrid, Espanha, a situação retratada é a mesma: a morte de Cristo. Mas, este aparece retratado de uma forma que o coloca num plano mais humano. 

Pormenor do plano terreno representando personagens humanos de estatuto social  importante- nobreza, alto clero

Posteriormente, o tema da morte, aparece em pinturas como O enterro do Conde de Orgaz (1587) de El Greco (1549-1614), pintura que se encontra na Igreja de São Tomé em Toledo, Espanha, representando personalidades importantes da Alta Nobreza, tem como personalidade central o Conde de Orgaz. Todavia os elementos ligados ao plano do sagrado mantem-se presentes – Cristo, anjos, santos-.


Pormenor do plano divino - Os seres divinos assistem ao funeral deste humano importante - o Conde de Orgaz

Enterro em Ormais  de Gustave Courbet 

Já no século XIX, com O enterro de Ormains (1850) de Gustave Courbet (1819-1877), que se encontra no Museu D’Orsay, Paris, França, observamos uma outra evolução na pintura que, por esta altura, inclui temas do mundo quotidiano. Trata-se da representação do ritual do funeral de uma pessoa comum, sem estatuto divino ou social importante, em que os símbolos do divino são eles próprios representados – A estátua de Cristo aparece no crucifixo. É a arte dentro da arte. O tema central é o mesmo, mas vamos assistindo a uma evolução: Cristo Divino, Cristo Humano, Humano Importante, Humano “ quotidiano”. Este exemplo mostra como as representações do tema da morte evoluíram para progressivamente ficarem mais próximas de nós, chegando assim ao ponto de partida desta apresentação que teve início com o visionamento de um extrato de um vídeo representando um ritual funerário naGanda. Mas, todas estas pinturas, desde o Renascimento ao Realismo, têm em comum a tristeza e sofrimento que estão associados à perda de entes queridos, ao contrário do que nos é mostrado no vídeo, onde os cangalheiros dançam ao ritmo de uma música animada que acompanha o cortejo fúnebre, mais como uma festa, o que na nossa cultura é impensável. O modo como interpretamos a imagem está relacionado com os nossos valores culturais.



Documentário da BBC sobre os Cangalheiros do Ganda


Algumas opiniões dos alunos

Eu gostei muito da apresentação pois fala de aspectos que nós nunca
pensamos e bastante interessantes. A parte que gostei mais foi a parte do
meme do caixão.

Rafael


Eu gostei da sessão do investigador Simão Valente, foi uma aula diferente onde podemos
aprender diversas coisas e ter outros tipos de conhecimentos.

Eliana

A minha opinião sobre a “aula” dada pelo professor Simão Valente é
bastante positiva… achei bastante interessante para além
da motivação e alegria que o professor consegue transmitir para
cada um de nós, fiquei a perceber e a atender coisas novas de
diferentes maneiras.

Beatriz

O que eu achei sobre a videoconferência com o investigador Simão Valente foi gira gostei
aprendi coisas que eu nem sabia, gostei muito da parte quando o investigador Simão Valente
pós aquele vídeo sobre aqueles homens do caixão só não gostei foi quando ele explico o vídeo
depois mas resto eu gostei muito.

Rafael






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