A propósito do Livro1 de chancelaria de D. Fernando I, fizemos uma pesquisa para responder com mais pormenor a algumas questões dos alunos durante a visita.
Porque eram tão grandes os livros?
Muitos livros eram bastante grandes em relação ao formato de livros a que estamos habituados. Também havia livros de formatos mais pequenos. Contudo, como os livros eram feitos à mão quanto mais pequenos fossem, mais as folhas tinham de ser cortadas e mais encareciam o livro. Este livro é um livro administrativo e, como tal, obedecia às convenções da época.
Porque têm este cheiro?
Este livro tem mais de 650 anos. É um objeto feito de vários materiais tratados para durar. As folhas são de pergaminho de linho, a capa de madeira, forrada a pele de animais. Porém, embora muito bem preservados, nenhum dos materiais de que é feito é eterno e, o que se sente, é o cheiro próprio do couro e da madeira envelhecida.
Porque não há parágrafos no texto?
Bem, na realidade há! Não são é visualmente percetíveis, da forma que nos é atualmente familiar. Isto é, não temos espaços em branco, a marcar os parágrafos no corpo do texto. No texto, todos os espaços são preenchidos. É uma convenção de escrita que pode ser devido ao facto do papel ser muito caro. Assim, não havendo espaços em branco, poupa-se papel. E, portanto, o livro " rende mais"! No entanto, os parágrafos existem. São sinais a vermelho que marcam o final da frase e o início de outra.
Porque estão as palavras escritas de várias maneiras?
Estamos no século XIV. Nesta altura, na língua portuguesa ainda não há uma forma fixa de escrever as palavras. Muitas letras têm vários valores fonéticos. Contudo, se lermos rapidamente as palavras em voz alta, elas são as mesmas independentemente da forma como estão escritas. As diferentes grafias das palavras atestam uma época em que na língua escrita se podem notar influências de espanhol, do latim e também do francês, assim como a evolução de algumas letras do alfabeto. As formas gráficas das palavras vão evoluindo até haver uma única forma aceite de as escrever, o que é o que acontece atualmente. Porém, neste caminho, houve necessidade de se estabelecer acordos ortográficos, que são uma espécie de leis que regem a forma de escrever, estipulando o que está correto do que não está. Atualmente, encontras textos escritos de acordo com o novo acordo ortográfico (1990), e que entrou em vigor em 2009, pelo qual aprendeste a escrever. Porém as pessoas mais velhas, aprenderam segundo o acordo anterior de 1945.
Podes ver aqui algumas alterações que o acordo ortográfico introduziu na escrita do Português. e consultar.
Podes consultar o Vocabulário ortográfico comum da Língua Portuguesa AQUI
Se tiveres dúvidas quanto à grafia de uma palavra podes utilizar o LINCE
Porque é que no início de cada texto há uma letra desenhada?
A letra desenhada no início de cada texto é quase sempre a letra D, que nos aparece mais ornamentada, embora com o decorrer dos anos venha a ser mais simplificada.
A letra desenhada corresponde a uma capitular. Isto é a letra de abertura do parágrafo, a qual é normalmente destacada. Isto é uma convenção de escrita que é comum a todos os livros da época medieval. Normalmente, é mais ornamentada, como esta que inicia este livro.
Capitular S - página do início do livro 1 de Chancelaria de D. FernandoNos livros administrativos porém, esta convenção, embora se mantenha, verificamos neste livro em particular, a simplificação da letra D há medida que avançamos no tempo.
Porque é que o texto está escrito a duas cores?
A cor predominante é o negro. A tinta preta era produzida com ingredientes mais baratos que as tintas de outras cores. Porém, os títulos dos textos aparecem destacados com a utilização da tinta vermelha - rúbricas - A palavra rubrica vem de rubro, ou seja vermelho. No livros medievais manuscritos também se utilizava a tinta azul para as rubricas. Mas a cor mais comum é o vermelho, uma tradição de escrita que já vem do tempo dos Egípcios. Assim, utilizando as tintas de cores negro e vermelho, consegue-se organizar os textos de forma a que sejam fáceis de perceber quando um termina e outro começa, destacando nos títulos os assuntos, o que funciona como um índice -.
Os ingredientes para fazer as tintas das cores negro e vermelho são recursos mais económicos. Todas as outras cores implicam a utilização de ingredientes mais dispendiosos.
Porque é que este livro é importante?
Este livro é importante porque ele é um livro que regista as ordens do rei no que se refere a organização do reino, das pessoas, bens e territórios. É o equivalente ao Diário da República atualmente. Assim sendo é um documento histórico precioso que nos conta a história administrativa, económica e um pouco da social do Portugal de então. Em suma, é um registo valioso para conhecermos a História de Portugal e em muitos períodos a fonte histórica documental mais importante a que os historiadores recorrem para estudar a História do nosso país.
Existem mais livros destes?
Sim existem. Os reis de Portugal que reinaram antes e depois de D. Fernando também mandaram fazer este tipo de livros - Livros de chancelaria - com o mesmo fim: registar as suas ordens e organizar o território, bens e pessoas que nele existem. Eles constituem o retrato do Portugal da época e são, por isso, importantes documentos históricos. Podes ver as versões digitalizadas desses outros livros de chancelaria que estão disponíveis para consulta pública. Também existem versões organizadas por historiadores. O livro 1 de chancelaria de D. Afonso II ( 2.º Rei de Portugal) é o livro de chancelaria mais antigo da Europa!!.
Aqui ficam alguns links para descobrir mais:
Vê o vídeo sobre a produção dos manuscritos desde a produção dos materiais, à conceção do livro como objeto, às diferentes fases de escrita e iluminação.
Veja alguns livros medievais
Muitos livros que foram produzidos na Idade Média são obras de arte. Verdadeiros tesouros artísticos realizados por encomenda de grande senhores. Esta tradição continuou ainda no Renascimento, embora com a invenção da imprensa, os livros impressos fossem pouco a pouco substituindo os manuscritos. Em Portugal existiram centros de produção de manuscritos com os mosteiros de Santa Cruz de Coimbra e do Lorvão a distinguirem-se. Já na época do Renascimento, os reis mais ricos da Europa de então, os reis portugueses D. João II e D. Manuel I, encomendaram os seus livros de horas, seguindo a tradição dos seus pares e antecessores. De facto, por toda a Europa os scrptorium produziram grandes quantidades de livros iluminados, sob encomenda de grandes senhores ou de instituições religiosas entre outras.
Atualmente, este livros são tesouros guardados em coleções particulares ou instituições que os preservam como património. Vê aqui alguns exemplos:
manuscritos iluminados - livro digital gratuito do Museu J. Paul Getty
Manuscritos iluminados quinhentistas na biblioteca de Coimbra
Catálogo dos livros de horas da biblioteca nacional do Brasil
Aprender +
Explorar os manuscritos medievais através de uma série de videos
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